Homem de Cultura

Se como humanista Cabral foi grande, como homem de cultura ele foi notável. Basta ver o que a esse propósito foi dito no capítulo II, da Primeira Parte da já aludida obra e que analisa as mais diversas expressões e conceções de cultura, em Amílcar Cabral. Eis algumas, entre outras: a luta de libertação como ato de cultura; cultura e identidade; cultura e pragmatismo; cultura e unidade; cultura e solidariedade; cultura e consciencialização; cultura e conhecimento; cultura e qualidade do ensino; cultura de realismo; cultura de tolerância e de abertura ao mundo…

Todos esses aspectos, e outros mais, foram abordados no segundo capítulo da Primeira Parte do livro e que apresenta “Cabral Homem de Cultura”.

Não vamos retomá-los aqui para não ser fastidioso e repetitivo. Gostaríamos apenas de referir-nos à conceção que Cabral tinha de cultura e que, em vários aspetos, coincide com a da UNESCO.

Diz Cabral:

“… A cultura é a síntese dinâmica da realidade material e espiritual da sociedade e exprime as relações tanto entre o homem e a natureza como entre as diferentes categorias de homens no seio de uma mesma sociedade …” (UL1:291).

Esta conceção está muito próxima da do Mondiacult, organizado pela UNESCO, no México, em 1982 e que define a cultura como:

«… o conjunto dos traços distintivos, espirituais e materiais, intelectuais e afectivos, que caracterizam uma sociedade ou um grupo social, englobando as artes, as letras, os modos de vida, os direitos fundamentais do ser humano, os sistemas de valores, as tradições e as crenças».

Cabral era agrônomo e não antropólogo. Porém, a sua interpretação de cultura aproximava-se da do antropólogo. Talvez seja esta a razão por que um estudioso caboverdiano tenha declarado que, para Amílcar Cabral:

“… a cultura é um modo de ser e de estar que o homem cria para a satisfação das suas necessidades próprias e as do ambiente em que vive. ..”.6

A novidade em Amílcar Cabral está em considerar a luta armada como um ato de cultura. Eis o que ele nos diz:

“… o primeiro acto de cultura que devemos fazer na nossa terra é unir o nosso povo lutando e desenvolvendo em cada um de nós o patriotismo, o amor à nossa terra… Se juntarmos as nossas forças, não permitiremos que os filhos da nossa terra sejam pisados e humilhados e mostraremos claramente que têm direitos iguais aos de qualquer outro povo na sua própria terra” (PMA:192).

Pode parecer estranho que uma guerra possa ser um ato de cultura. Porém, depois de todas as tentativas frustradas de diálogo, a luta armada foi a única forma encontrada para se chegar à paz, à conquista da liberdade, ao respeito pela dignidade, pelos direitos fundamentais e pela autodeterminação dos povos da Guiné e Cabo Verde. É por isso que Cabral se considerava um soldado de paz das Nações Unidas e para os combatentes ele utilizava a designação de “militantes armados para causa da paz”.

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