Corsino António Fortes
Presidente de 2008 a 2012
Licenciado em direito pela Universidade de Lisboa (1966), o autor do célebre livro de poesia “Pão e Fonema” perdeu bem cedo os pais e, aos 12 anos, teve de suspender os estudos, passando a trabalhar na Companhia Ferro como aprendiz, ajudante de ferreiro e ajustador de máquinas.
Retornou ao liceu somente aos 20 anos, onde encontrou colegas como João Varela, com quem travou diálogos sobre suas “primeiras pedras de projecto literário”, segundo entrevista que Corsino Fortes concedera ao historiador Michel Laban, em 1992.
Entre 1957 e 1960, a aproximação com Abílio Duarte, um dos fundadores do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), e que retornava da Guiné-Bissau para mobilizar e conscientizar a juventude cabo-verdiana para a luta de libertação nacional, também o influenciaria decisivamente.
É nesse período que alguns de seus poemas são publicados no Boletim dos Alunos do Liceu Gil Eanes, no “Cabo Verde: boletim de propaganda e informação” e na revista Claridade, o número 9, o último deste periódico.
Em 1961, foi para Lisboa cursar Direito, e a passagem pela Casa dos Estudantes do Império contribuiu para seu amadurecimento político, principalmente em função da efervescência dos debates travados sobre a realidade das então colônias portuguesas e das produções literárias que apontavam para uma ordem diferente.
Concluiu a faculdade, em 1966, e, desde então, passou a exercer inúmeros cargos jurídicos, políticos e diplomáticos: em Angola, delegado do Ministério Público e juiz de Direito, até pedir exoneração em Abril de 1975; representante do PAIGC, também em Angola, entre os anos de 1974 e 1975; director-geral dos Assuntos Judiciários da República da Guiné-Bissau; emissário especial da República de Cabo Verde junto aos governos de Angola e de São Tomé e Príncipe.
De 1975 a 1981, Corsino Fortes foi embaixador de Cabo Verde junto à República Portuguesa, em 1981, de volta a Cabo Verde, secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro; em 1983, secretário de Estado da Comunicação Social; entre 1986 e 1989, embaixador de Cabo Verde junto à República Popular de Angola e aos governos de São Tomé e Príncipe, Zâmbia, Moçambique e Zimbábue; de 1989 a 1991, ministro da Justiça pelo governo de Cabo Verde; consultor diplomático, em 1992, do I programa PALOP.
Considerado, na qualidade de escritor, como um dos grandes nomes da literatura de Cabo Verde, Corsino Fortes é tido como o poeta que inaugurou “uma poética de reescrita da identidade cultural cabo-verdiana” através de um trabalho com o aparato estético do poema.
O projeto literário de Corsino Fortes é consolidado na reunião dos seus três livros de poesia na obra intitulada “A cabeça calva de Deus”(2001): os dois primeiros livros, “Pão & fonema”(1974) e “Árvore & Tambor”(1986), somam-se ao terceiro, “Pedras de sol & substância”, publicado com a obra poética.
Cada livro apresenta uma estrutura particular, e os três compõem uma estrutura conjunta e dialógica e, numa das entrevistas concedidas pelo autor, quando do lançamento de “A cabeça calva de Deus”, assim caracterizou, em linhas gerais, a trilogia:
“Acaba por ser todo o projeto de independência do povo de Cabo Verde, em que Pão & Fonema representa, de facto, os símbolos daquilo que é fome, daquilo que é a realidade de Cabo Verde durante séculos, e, por outro lado, a exigência pela palavra, liberdade e cultura. Em Árvore & tambor já há a materialização do “pão”, no sentido dos instrumentos de produção do país e toda a comunicabilidade do arquipélago com África e o mundo. Pedras de sol & substância é a substancialização solar desta realidade. Há uma materialização de aspectos, não só de ordem literária, mas também de ordem pictórica e musical. É tudo aquilo que pode significar a identidade deste espaço, e dos que o habitam, dentro e fora do arquipélago.” (Revista África Hoje, n. 159, Nov.2001).
A sua última obra literária “Sinos de Silêncio” foi apresentada no dia 21/07/2015, na cidade do Mindelo.
O poeta e diplomata Corsino Fortes foi o primeiro presidente da Academia Cabo-Verdiana de Letras (ACL), entidade que dinamiza o panorama literário em Cabo Verde e homenageia “os imortais” da arte da palavra no arquipélago.
Também foi Presidente da Fundação Amílcar Cabral, bem como, Presidente do Conselho de Administração da Impar – Companhia Cabo-Verdiana de Seguros e Vice-Presidente do Conselho de Administração da Caixa Económica de Cabo Verde
Foi condecorado pelo Governo Português com a Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique e com a Grã-Cruz da Ordem de Mérito; pelo Governo Francês com o Grand officier de L’ordre nacional du Mérite; e pela Presidência da República de Cabo Verde com a Ordem do Vulcão.
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