Intervenções no seminário de quadros, 1961
Amílcar Cabral, que era um educador de primeira ordem, emprega-se a forjar o instrumento intelectual destas exigências, criando a escola de formação dos quadros do Partido, de que foi o principal animador. O seu ensinamento e as suas análises combinam transmissão de saberes, crítica e autocrítica, directivas e avaliação das aplicações no terreno.
Os combatentes da liberdade deviam estar imbuídos das realidades sociais e culturais que enformaram a mentalidade dos respectivos povos, bem como do seu papel histórico, tanto na fase do combate libertador como no período de reconstrução de uma nova nação, onde todas as componentes deviam achar-se em pé de igualdade e beneficiar das mesmas possibilidades de realização pessoal e social. As condições em que era levada a cabo a luta de libertação nacional deviam suscitar novas solidariedades, base de uma integração nacional, excluindo o surgimento de particularismos étnicos, religiosos ou sociais, susceptíveis de minar os fundamentos da unidade da nova nação, e afastar qualquer deriva autoritária ou tentação de se instaurar o clientelismo.
A ideia central de Amílcar Cabral, segundo o qual é preciso ‘’pensar com as nossas próprias cabeça’’, ideia que constitui o tema central deste simpósio, esteve subjacente a todas as concepções e a todas as acções que acabo de expor. Porque pensar com as nossas cabeças é assumir, com conhecimento de causa, a plenitude das nossas responsabilidades em relação a nós mesmos, face às exigências de liberdade, de coesão nacional, de desenvolvimento, de justiça social, de integração africana, bem como os nossos deveres para com a comunidade humana no seu todo, tendo em vista a paz, a segurança, a justiça e o bem-estar de todos, numa base de mútuo respeito e de mútua confiança.
Amadou Mahtar M’Bow
Ex-Director-Geral da Unesco
No II Simpósio Amílcar Cabral, em 2005
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