Estratega e Diplomata

Amílcar Cabral foi um estratega brilhante que fez História através da Ação política e através da sua teoria de libertação nacional.

A obra de Amílcar Cabral, tendo percorrido não só a África e a Europa, mas também a Ásia e a América, e o uso que fez da palavra nas altas instâncias da vida internacional, continuam sendo testemunhos eloquentes.

Cerca de meio século depois, continuam válidas as razões que estão na base da sua luta e do seu pensamento: o capitalismo desumano continua existindo e fazendo vítimas; novas formas de neocolonialismo se têm instalado em algumas partes da África e alguns países do «Terceiro Mundo», interpelando-nos a todos, acerca da atualidade e utilidade das análises de Cabral, para quem, a crise africana, longe de ser uma crise de crescimento, é uma crise de conhecimento.

Ao estudar os textos e a ação política de Amílcar Cabral encontramos muitas contribuições para o enriquecimento do debate que precisa ser feito, tendo como foco os atuais problemas políticos africanos e internacionais, nomeadamente, o problema do conhecimento, colocado por Cabral, como uma questão fulcral do pensamento estratégico africano cujo ideal de libertação nacional deve ser entendido como um processo complexo e de longa duração, envolvendo diversas variáveis, nos campos da política, da economia, das finanças, da tecnologia, da gestão, do conhecimento, em geral, sendo uma obra de várias gerações.

Amílcar Cabral atribuiu bastante importância ao diálogo na estratégia política geral que elaborou, e começou a sua ação política pela denúncia internacional da situação que prevalecia nos territórios sob administração portuguesa e pelo envio de propostas ao governo português visando a eleição de representantes encarregues de preparar a autonomia de cada uma das colónias, na base do reconhecimento do direito dos povos da Guiné e Cabo Verde à autodeterminação, exigindo a retirada imediata das forças armadas portuguesas e da polícia política (PIDE) dos territórios da Guiné e de Cabo Verde e a amnistia total e incondicional, bem como a libertação imediata de todos os prisioneiros políticos.

Amílcar Cabral concebeu e desenvolveu um pensamento estratégico ligado à teoria de libertação nacional assente em dois grandes princípios: a importância da fundamentação teórica do projeto de libertação nacional e a necessidade de realismo político na sua execução.

São desenvolvidos no documento os grandes eixos de reflexão teórica e os conceitos operatórios da estratégia revolucionária formulada por Cabral.

Fez da comunicação uma importante arma para a luta que decidiu travar contra o retrógrado regime colonial, concebeu e executou um programa estratégico integrado em que a componente ligada à ação política interna também foi importante. Nesta base, deu a maior importância à educação, no quadro da luta, à saúde e ao abastecimento das populações em produtos essenciais. Desenvolveu conceitos importantes como de «região libertada», «escola-piloto», «armazéns do povo», apelou à «equidade do género» e defendeu os direitos especiais das crianças.

Cabral desenvolveu toda uma teoria sobre o papel e os limites da luta armada que considerou um ato e um fator de cultura, tinha uma preferência especial pela utilização da expressão «militante armado», e defendeu sempre que a independência não era para ter ministros com boa vida, ter bandeira e hino e o povo a continuar sem melhoria das condições de vida. Para ele, a independência devia poder significar a melhoria das condições de vida do povo e a luta de libertação devia ser um processo complexo que devia ser assumida por várias gerações da própria nação, não era suscetível de ser feita por outrem e não poderia ser dissociada da responsabilidade inerente ao sujeito da luta.

Ao desenvolver os elementos teóricos que fundamentavam a subordinação da luta armada à ação política, também explicava as razões porque os «militantes armados» eram «soldados anónimos da causa da ONU».

Amílcar Cabral desenvolveu uma intensa atividade diplomática assente nos princípios e nas normas do direito internacional.

São muitos os autores que consideram que Amílcar Cabral deu uma contribuição decisiva para a doutrina internacional em matéria de emancipação e independência dos povos oprimidos. As suas diversas intervenções na arena internacional testemunham esta contribuição (ONU e comissões especializadas, especialmente, as Comissões de Descolonização e de Segurança; OUA; OSPAAL; UNESCO; Universidades e sindicatos de países dos países ocidentais), com destaque para a importância que deu à preparação da audiência com o Papa e às relações com instituições e entidades de vários países que eram formalmente aliados de Portugal.

Saber Mais: https://memorial2019.org/dossier/amilcar-cabral/diplomacia

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