Amílcar Cabral

Amílcar Cabral é considerado pelos estudiosos e historiadores como um dos mais brilhantes e fecundos entre os líderes dos movimentos contemporâneos de libertação nacional africana. As suas obras escritas, as suas reflexões e atitudes éticas são consideradas como um patrimônio político e intelectual de grande valor para a construção de uma África diferente e a inspiração tão necessária das gerações vindouras para enfrentar e vencer os novos desafios que se anunciam.
Pretende-se apresentar uma síntese do perfil e do extraordinário e fecundo percurso de vida da eminente figura histórica que foi o engenheiro AMÍLCAR LOPES CABRAL, percurso esse que merece ser preservado, conhecido, divulgado e valorizado.

1924
Nascimento
Amílcar Lopes Cabral nasceu na Guiné-Bissau, em Bafatá, a 12 de setembro de 1924. Filho de Juvenal Lopes Cabral, intelectual e escritor cabo verdiano, e de Iva Pinhel Évora

1932
Regresso a Cabo Verde
A família regressou a Cabo Verde no ano de 1932. Frequentou a escola primária na Praia.

1937
Cabral em Mindelo
Em São Vicente chega com 13 anos e fica até aos 19. Nestes anos de juventude, passados na cosmopolita cidade do Mindelo, Cabral vive “num meio cultural muito dinâmico e já nessa altura chegou a escrever, sem ter publicado, vários poemas de intervenção social, assinados com o pseudónimo “Larbac” que é o anagrama de Cabral. Recebe, nesta ilha, elementos que viriam a contribuir para a construção da sua personalidade multifacetada.

1943
Ensino Secundário - Liceu Gil Eanes Mindelo
Termina o Liceu, área das ciências, em 1944, com a média de 17 valores, uma classificação excecional na época. Anos 40 - Assina os seus primeiros cadernos de poesia intitulados: “Nos Intervalos da Arte Minerva”, “Quando o Cupido Acerta no Alvo” e o ensaio “Hoje e Amanhã” A grande seca de 1941, que assolou as ilhas sob administração colonial, levou-o à decisão de se tornar engenheiro agrónomo.

1944
Regresso a Praia
De regresso de S. Vicente, e enquanto aguardava a ida para Lisboa, Cabral trabalhou na Imprensa Nacional, como aspirante interino. Um ano depois, em 1945, consegue uma bolsa da Casa dos Estudantes do Império, para cursar agronomia, como era seu desejo.

1945
Ensino Superior
Em 1945 partiu para Lisboa com uma bolsa de estudo para o Instituto Superior de Agronomia. Participou com outros estudantes das colónias portuguesas em atividades orientadas para a descoberta da cultura africana, nomeadamente na Casa dos Estudantes do Império. É um dos fundadores, com Mário Pinto de Andrade e Francisco José Tenreiro, do Centro de Estudos Africanos, que se reuniam desde 1951 na casa de família de Alda do Espírito Santo. Destes encontros nasceu um movimento literário, influenciado pelos ideais da Negritude, e deu-se a afirmação da identidade africana - fase que Cabral descreveu como a “reafricanização dos espíritos” – indispensável à formação dos futuros dirigentes dos movimentos pela independência.

1949
Ferias em Santiago
Em 1949, estando de férias, faz palestras na Rádio Clube, e diligencia no sentido de dar aulas noturnas a um público particularmente interessado nas suas reflexões sobre um Cabo Verde marcado por mais uma fome. A maior do século XX, e que esteve na origem do Desastre da Assistência, uma das páginas mais negra da história deste arquipélago. Em diferentes fóruns internacionais, Amílcar Cabral denunciara a situação de abandono do arquipélago por parte das autoridades coloniais, relativamente às sucessivas fomes que assolaram o arquipélago.

1950
Cabral Agrônomo - Santarém
Após concluir o diploma cinco anos depois, conseguiu emprego na Estação Agronómica de Santarém onde permaneceu dois anos.

1952
Regresso a Bissau
Em 1952 o engenheiro agrónomo regressou ao seu país de origem e, como técnico ao serviço da administração colonial, realizou o Recenseamento Agrícola da Guiné, que lhe deu um conhecimento profundo da população e da sociedade guineense, essencial para a estratégia de guerrilha que viria a adotar durante a luta de libertação. Em 1952 assinou contrato para trabalhar nos Serviços agrícolas e florestais da Guiné e partiu para Bissau. Foi durante o censo agrícola de 1953 que adquiriu um conhecimento preciso das condições de vida e da realidade económica em que vivia a população.

1955
Cabral em Angola
As suas actividades tornaram-no suspeito aos olhos das autoridades portuguesas e foi transferido em 1954 para Angola. De 1956-1959, Amílcar Cabral, realiza trabalhos em Angola, na área de estudos de solos, participando também em actividades clandestinas nacionalistas. Em Angola, Amílcar Cabral viveu em Luanda e trabalhou em Benguela, Caxito e Gabela.

1956
PAIGC
A 19 de setembro de 1956, criou clandestinamente o Partido Africano da Independência, em Bissau, assumindo desde então o cargo de secretário-geral. Iniciou a fase de mobilização política sob o pseudónimo de Abel Djassi. Continuou a colaborar estreitamente com Mário Pinto de Andrade na construção e afirmação dos valores nacionalistas, no MAC, na FRAIN e na CONCP, ao mesmo tempo que desenvolveu rigorosamente o processo de crítica e julgamento do colonialismo português, denunciando os seus crimes no plano internacional. Apenas quatro anos depois, o PAIGC saiu da clandestinidade e estabeleceu-se em Conacri, capital da República da Guiné-Conacri.

1959
Massacre de Pidjiguiti
Perpretado pelos colonialistas portugueses a 3 de Agosto de 1959, contra estivadores e trabalhadores do transporte fluvial em greve, tirando a vida a mais de 50 manifestantes e deixando centenas de feridos, foi uma dolorosa lição para o nosso povo. Aprendemos que, contra os colonialistas portugueses, não havia outra escolha a fazer. Eles tinham armas e decidiram massacrar-nos. Decidimos então, numa reunião clandestina da liderança do nosso partido, realizada no dia 19 de Setembro de 1959, em Bissau, suspender todas as representações pacíficas nas cidades e nos preparar para a luta armada. Para isso era necessário ter uma base sólida no campo e, após três anos de activa e intensa mobilização e organização das populações rurais, conseguimos criar essa base, apesar da crescente vigilância das autoridades coloniais.

1960
PAIGC Conacri
O Partido abre uma delegação em Conacri - sede do PAIGC e começa a trabalhar activamente nos preparativos para o reforço do PAIGC e o arranque da luta armada de libertação nacional. A China apoia a formaçao de quadros do PAIGC.

1961
Relação com Marrocos
Marrocos abre as portas aos membros do Partido. No mesmo ano, em 18 de Abril, em Casablanca, Marrocos, é fundada a CONCP (Conferencia das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas), um organismo de coordenação internacional dos movimentos nacionalistas das então colónias portuguesas. CONCP substituiu a frente pré-existente FRAIN (Frente Revolucionária para Independencia Nacional). CONCP integrava: PAIGC ( Guiné-Bissau e Cabo Verde); MPLA (Angola); FRELIMO (Moçambique); MLSTP (São Tomé e Princípe).

1962
IV Comissão da Assembleia Geral da ONU
A 12 de dezembro, Amílcar Cabral intervém na IV Comissão da Assembleia Geral da ONU, em que apresenta propostas para "ajudar concretamente o noso povo a libertar-se urgentemente do jugo colonial".

1963
Luta Armada
Foi em 23 de janeiro de 1963 que começou a luta armada contra o Portugal colonialista. Em 1963, frustradas todas as tentativas de diálogo com o poder colonial português, determinou a passagem da ação diplomática à luta armada, sendo o principal responsável pela organização da estratégia militar, coadjuvado por outros dirigentes do PAIGC, como Aristides Pereira e Luís Cabral, e por uma hierarquia de responsáveis militares nas três frentes de luta, entre os quais Francisco Mendes, Nino Vieira, Pedro Pires e Carmen Pereira.

1965
Conakry, da Escola Piloto
Inauguração, em Conakry, da Escola Piloto. Em Agosto, realiza-se a visita da primeira missão da ONU às regiões libertadas da Guiné-Bissau. Criação, em Dezembro, das Forças Armadas Revolucionárias do Povo (FARP).

1966
Conferência Tricontinental
Participa na Conferência Tricontinental de Solidariedade dos Povos de África, Ásia e América Latina- Havana - Cuba, de 3 a 15 de janeiro.

1967
Rádio Libertação
A 16 de Julho, início das emissões, a partir de Conacri, da “Rádio Libertação”.

1970
Encontro com o Papa Paulo VI
1 de Julho: O papa Paulo VI concede audiência a Amílcar Cabral, Agostinho Neto e Marcelino dos Santos.

1970
Operação Mar Verde
No final do ano o governador português da Guiné-Bissau lançou a Operação Mar Verde que visava pura e simplesmente a captura ou eliminação do carismático jovem líder do PAIGC, sem sucesso.

1973
Assassinato de Amilcar Cabral
Amílcar Cabral foi assassinado em Conacri no dia 20 de janeiro de 1973.

1973
Independencia da Guine Bissau
Aristides Pereira assumiu o cargo de secretário geral, e o PAIGC proclamou a independência da Guiné-Bissau em Madina do Boé, em 24 de Setembro de 1973.

1975
Independencia de Cabo Verde
A 5 de Julho de 1975 foi proclamada a República de Cabo Verde, enquanto Estado independente e soberano.