Apaixonadamente viajado pelas vagas e águas serenas desta escrita tão simples, tão natural, em que as palavras são quase oraturizadas, faladas para os nossos ouvidos de escutar griô, para desenharem uma nova espécie de parábolas que não são ficção mas parecem narrar o acontecido de um imaginário real, parábolas acontecidas e no texto todas ligadas não pela sequência cronológica mas pelo espontâneo magnetismo da vida entre pessoas, umas com as outras, as pessoas que se têm de resolver perante a situação real dos homens que oprimem outros e depois resumem tudo na inevitabilidade dogmática de estarem uns contra os outros. Entendo que a leitura proverbial sobre as manhãs do inverno austral (nosso cacimbo, aqui em Angola), é a síntese que eu escolho para comemorar esta obra que começa com viagens entre Lourenço Marques, Goa, Lourenço Marques, centrada num menino indiano, escuro, de cabelo liso, brilhante e que anda, aparentemente, desatinado com acontecimentos de circunstância como assistir à matança de uma jibóia com uma paulada de lhe partir a coluna ou fixar, como um marco, a lembrança do pai sobre o temporal do Chinde ou, ainda, a avó, professora, lhe ensinar a ler, de afecto, antes de entrar para a escola, ao seis anos de idade, no ano em que faria sete. O menino que aos seis anos sabia ler, aos 16 entrava na Universidade de Coimbra e aos 20 era quintanista de direito.
Parece que andava no ar um arco-íris de viagens que iriam acontecer, de forma encantatória, como se o garoto Óscar tivesse feito uma previsão sobre a manhã esplêndida, início do seu percurso pelo discurso imenso que faltava acrescentar à história dos que faziam parte da história.
Não é um livro de memórias, acima de tudo é um precioso registo de emoções de reciprocidade humanista que envolve a intencionalidade de um processo de libertação do colonialismo. E tão literário como esta lição:
“UMA MANHÃ ESPLÊNDIDA COMO SÓ SABEM SER AS MANHÃS DO INVERNO AUSTRAL. UM SOL RADIOSO, O AR FINO, UMA FRESCURA NA NATUREZA E NAS PESSOAS”
Manuel Rui, 25/1/2012
(Quem me dera ser onda)
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